Apple Watch: o que ele significa para a indústria relojoeira suíça?

A espera finalmente acabou. O anúncio de seu tão aguardado smartwatch aconteceu na última terça-feira, dia 9 de Setembro, em uma conferência na cidade de Cupertino, na Califórnia. Chamado apenas de Apple Watch, ele apenas não atendeu às expectativas de ser chamado de iWatch ou mesmo iTime. Você leu a cobertura de seu lançamento, aqui, no WatchTime Brasil. Mas a pergunta que fica no ar é: o que este lançamento significa para a indústria suíça de relógios de luxo?

Espera-se que o Apple Watch – a primeira e completamente nova linha de produtos desde o iPad e desde a morte de Steve Jobs, fundador da companhia – seja o líder entre todos os relógios inteligentes apresentados. Ele roda aplicativos, como alguns de corrida, e ainda conta com algumas características típicas de modelos analógicos, como uma “coroa digital” na lateral, que pode controlar algumas funções da peça.

A maior questão para aficionados, designers, relojoeiros e vendedores: Será que a ascensão do smartwatch vai liderar uma segunda Crise do Quartzo? O relógio mecânico suíço se defrontou com um concorrente de alta tecnologia nos anos 1970 e 1980, quando os novos movimentos de quartzo japoneses ameaçavam transformar a relojoaria tradicional em obsoleta.

A indústria conseguiu se recuperar quando os relógios mecânicos de luxo (suíços, alemães e mesmo japoneses) começaram a ser redescobertos como um item de luxo e status na década de 1990. Mas qualquer veterano do setor que experimentou a era irá dizer que houve muita dor naquele tempo. Será que o público comprador do relógio se afastará, mais uma vez, do tradicional para abraçar o mais novo sabor da alta tecnologia deste mês?

É sempre arriscado tentar prever o futuro, especialmente em um negócio tão imprevisível como o de relógios. Em uma entrevista recente para o nosso irmão norte-americano WatchTime.com, o CEO do grupo Swatch, Nick Hayek, relatou que há uma série de problemas nos smartwatches que estão no mercado, de acordo com um levantamento feito pela Swatch, como atualizações constantes de software e a necessidade da substituição do relógio com frequência.

É importante reforçar os pensamentos descritos por Alexander Linz, em seu blog Watch-Insider.com: “Estamos falando de dois segmentos totalmente diferentes, assim como compradores diferentes. Pode acontecer de alguém que usa um relógio mecânico também vestir um smartwatch, mas a peça mecânica nunca será substituída. Pelo contrário: tanto Apple, quanto outras fábricas de relógios inteligentes estimularão o consumo de pessoas que jamais usaram um relógio. Eu consigo imaginar que estas pessoas possam, depois, comprar outros relógios, eventualmente relógios mecânicos.”

Em suma, relógios com acabamentos de alto padrão têm cimentado sua posição como itens de luxo cobiçados por uma audiência mundial, que ainda é crescente. Ninguém “precisa” de um relógio caro, mas ninguém “precisa” de um Lamborghini Gallardo, ou um quadro original de Jackson Pollock, ou mesmo um vinho Chateau Lafite Rothschild 1945.

Um iPhone é um item caro, mas ninguém pode argumentar de forma convincente que ele é considerado um item de luxo neste momento. Se os smartwatches forem substituir completamente os relógios mecânicos tradicionais, isso representaria algo muito maior: um abandono de larga escala do luxo artesanal em favor do mercado de massa. Isto, de alguma maneira, é bastante difícil de imaginar.