Comprar réplicas de relógios: por que você não deveria fazer isso

“Relógios falsos são para pessoas falsas. Seja autêntico, compre verdadeiro”. Estes dizeres estampam uma das mais simbólicas campanhas contra réplicas não autorizadas e falsificações já lançadas pela Fundação da Alta Relojoaria em parceria com Federação da Indústria Relojoeira Suíça. Mesmo datada de 2009, a campanha jamais deixou de ser atual.

São muitos os e-mails, solicitações, comentários e mesmo republicações do conteúdo do WatchTime Brasil que falam sobre réplicas e falsificações. Responda sinceramente: você gostaria de ter um relógio original, certo? Muito obviamente sua resposta foi: “Sim, mas não tenho dinheiro suficiente para comprar um”. Acredite, você não é o único. Como muito sabiamente destacou nosso colega Robert-Jan Broer, em uma publicação datada de 29 de abril de 2009, “na maioria dos casos não é sobre o relógio, mas sobre as marca do relógio”. Se deseja tanto ter um relógio Suíço, opte por uma marca mais barata, não por uma réplica ou falsificação. A maioria destas peças jamais chegou perto da fronteira da Suíça. “Não podemos comparar relógios que são todos feitos manualmente, mantendo todos os padrões da alta relojoaria com réplicas”, diz Marcello Giusti, diretor da butique da Panerai no Brasil.

“A prática proporciona desemprego, prejudica quem comercializa e quem produz. É uma concorrência desleal, além de afetar o recolhimento de impostos”, afirma Marcos Fernando Prado de Siqueira, superintendente adjunto da Receita Federal em São Paulo. “As marcas investem milhões em tecnologia, conhecimentos e estudos para criar um produto, para tê-lo vulgarmente copiado e, muitas vezes, com características distintas e longe de ser comparado a um original”, descreve Giusti.

Com um perfil na rede social de compartilhamento de fotos Instagram criado há quase de seis meses, Fake Watch Hunter já ultrapassa a marca de 5 mil seguidores. Seu principal objetivo com o perfil é mostrar aos consumidores de réplicas – que acreditam comprar um relógio idêntico ao original – que eles são enganados. “Suas réplicas não são idênticas e essas pessoas podem se expor ao ridículo”, conta o criador do perfil, que concordou conversar com o WatchTime Brasil por e-mail sob a condição de anonimato. Seu objetivo parece ser alcançado a cada publicação. É comum ver o perfil dos denunciados inativo, respostas educadas de pessoas que se arrependem da aquisição ou mesmo aqueles que são mais agressivos.

Se por um lado cabe ao consumidor não cair neste tipo de cilada, por outro lado, há o papel do governo no combate às réplicas e falsificações. “Elaboramos cada vez mais instrumentos para ter inteligência fiscal e artificial para grandes importações de cargas e para as declarações de importação. Temos também um sistema para passageiros que recebe informações antecipadas para atuar naqueles que oferecem risco”, diz Siqueira. “A Receita Federal atua em todos os pontos de entrada formais que existem no país. Estamos em aeroportos, portos e fronteiras terrestres com ponto de entrada. Em outros locais há um trabalho de vigilância, mas temos uma fronteira muito grande”, complementa ele.

Para as marcas, a orientação é dada com informação. “Quando há uma dúvida, orientamos a não consumir estes produtos por varias razões, tais como preço, qualidade, garantia, durabilidade, características estéticas e incentivo ao crime”, descreve Giusti. Afinal, quem busca um relógio mecânico está à procura das características intrínsecas aos produtos de luxo, como exclusividade, tecnologia, DNA da marca e a história da companhia. “Quando se compra uma réplica, todas essas características se perdem.”

Dados da Receita Federal indicam que entre janeiro de 2010 e dezembro de 2014 mais de R$ 251 milhões foram apreendidos em relógios. Deste total, mais de R$ 156 milhões apenas no estado de São Paulo, onde há a maior concentração de apreensão deste tipo de produto no País. Entre janeiro e junho de 2015, já foram quase R$ 17 milhões em âmbito nacional e, do total, cerca de R$ 4,8 milhões em São Paulo. “Deste montante, mais de 90% é falsificado”, informa o superintendente Marcos Fernando Prado de Siqueira.

De acordo com Siqueira, muitas das peças que entram no Brasil são réplicas de ótimas qualidades, que requerem até mesmo a análise profunda de um especialista representante de cada marca. Os modelos comprovadamente replicados ou falsos são encaminhados para destruição, enquanto as peças originais são leiloadas depois de sua originalidade certificada. “Existe a tentativa de elaboração de uma agenda com o contato correto de representantes de cada marca para serem informados em caso de apreensão, para que haja a intervenção da marca”, explica Philippe Widmer, delegado da Federação da Indústria Relojoeira Suíça para a América Latina.

Apesar da reunião de esforços dos mais diversos lados, a pena para quem comete este tipo de delito é razoavelmente branda. Os produtos são apenas apreendidos. Em casos mais graves, há também a incidência de uma multa e também uma representação fiscal para fins penais – quando a Receita Federal comunica ao Ministério Público Federal a ocorrência de fatos contra a ordem tributária.

O controle também parece ser dificultado. O diretor da butique Panerai no Brasil conta que nem mesmo as polícias locais ou aduaneiras conseguem estancar esta enxurrada de falsificações. É possível encontrá-las abertamente em sites modelos denominados réplicas. Estes mesmo sites migram constantemente para evitar fiscalização.

A arma do consumidor contra este tipo de produto também está na internet. A Receita Federal possui um sistema online que recebe denúncias anônimas. Trata-se da seção de ouvidoria do Ministério da Fazenda, que pode ser acessada por meio deste link. Em escala internacional, é possível denunciar fraudes no site da Federação da Indústria Relojoeira Suíça neste link.

Além disso, cabe ao consumidor buscar as informações sobre revendedores oficiais de cada uma das marcas em sua localidade. Matérias do WatchTime Brasil costumam sempre trazer este tipo de informação, juntamente com o site oficial de cada uma das marcas, onde é possível refazer a consulta dos pontos de venda oficiais. Para buscar informações sobre a autenticidade de seu relógio, busque um relojoeiro de confiança, a própria marca ou mesmo a Federação da Indústria Relojoeira Suíça.